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“A sabedoria vem através do encontro do coração e o intelecto” Osho

CERTA VEZ, UM SANNYASIN PERGUNTOU: “Osho, no passado você costumava falar sobre o belo caminho da confiança, do amor, o caminho do coração. Agora sua ênfase parece estar mais na razão, no questionamento, no ceticismo, na inteligência. O seu trabalho mudou ou está numa nova fase?”

Não, não é uma nova fase, é apenas o outro lado do primeiro. Eu estava ensinando sobre a confiança, porque você estava vindo de um mundo que não sabe nada sobre confiança. Você estava vindo de um mundo que treinou você intelectualmente e tentou negar a existência do seu próprio coração, negar que o sentimento é também uma forma de saber. Eu estava ensinando sobre a confiança, para que eu pudesse abrir a nova porta do coração.

Sem abrir a porta do coração eu não posso dizer a você, “Duvide, seja cético”, porque eu estaria colocando você num caminho perigoso, que não leva a nada. É um pouco complexo, mas tente entender.

Sem abrir a porta do coração eu não posso dizer a você, “Duvide, seja cético”, porque eu estaria colocando você num caminho perigoso, que não leva a nada.

Uma pessoa que não sabe nada sobre sentimento, nada sobre confiança, que nunca experimentou nada como o amor, seu coração nunca bateu de alegria, nunca dançou de alegria na presença de alguém – essa pessoa pode continuar duvidando, mas não vai encontrar a resposta, porque sua dúvida será muito superficial. Ela não vai confiar em sua própria dúvida. Sua investigação será só mais ou menos. Ela não vai confiar em sua própria busca, não saberá nada da confiança.

Sua busca vai precisar de confiança, porque você vai estar seguindo rumo ao desconhecido. Ela vai exigir uma enorme confiança e coragem, porque você está se afastando do convencional e do tradicional; você estará se afastando da multidão. Você estará seguindo para o mar aberto e não sabe nem se a outra margem existe. Eu não poderia enviar você nessa busca sem prepará-lo para ter confiança. Vai parecer contraditório, mas o que eu posso fazer? A vida é assim.

Só uma pessoa de grande confiança é capaz de ter uma grande dúvida. Uma pessoa de pouca confiança só pode duvidar um pouco. Uma pessoa de nenhuma confiança só pode fingir que duvida. Não pode duvidar.

A profundidade vem através da confiança – e é um risco. A inteligência é o intelecto em sintonia com o coração. O coração sabe confiar. O intelecto sabe buscar e investigar. Antes de eu enviar você para o mar desconhecido, tenho de prepará-lo para essa imensa viagem que você terá que fazer sozinho. Mas eu posso levá-lo até o barco. Isso é o que eu estava tentando lhe ensinar, sobre a beleza da confiança, o êxtase do caminho do coração. Para que, quando for para o mar aberto da realidade, você tenha coragem suficiente para seguir em frente. Aconteça o que acontecer, você terá confiança suficiente em si mesmo.

Veja só: se você confia em mim… como pode confiar em mim se não confia em si mesmo? É impossível. Se você duvida de si mesmo, como pode confiar em mim? É você quem vai confiar em mim, e você não confia em si mesmo, como pode confiar na sua confiança? É absolutamente necessário que o coração esteja aberto para que o intelecto possa ser transformado em inteligência.

Essa é a diferença entre intelecto e inteligência.

A inteligência é o intelecto em sintonia com o coração. O coração sabe confiar. O intelecto sabe buscar e investigar.

Há uma antiga história no Oriente: dois mendigos costumavam viver nos arredores de uma aldeia. Um era cego e o outro não tinha pernas. Um dia, a floresta perto da aldeia onde os mendigos moravam pegou fogo. Eles eram concorrentes, é claro – na mesma profissão, pedindo esmola para as mesmas pessoas –, e estavam sempre brigando. Eram inimigos, não amigos.

 Pessoas da mesma profissão não podem ser amigas. É muito difícil, porque é uma questão de concorrência, de ter clientes, você tem que tirar o cliente de alguém. Os mendigos dividiam os clientes: “Lembre que este homem é meu, você não pode incomodá-lo”. Você não sabe a que mendigo você pertence, mas algum mendigo da rua possui você. Ele pode ter lutado e vencido a batalha e agora ele ganhou a sua posse.

Então, quando a floresta estava em chamas, esses dois mendigos pensaram por um instante. Eram inimigos, nem mesmo se falavam, mas era uma emergência. O cego disse ao aleijado, “Agora a única maneira de escapar é você se sentar sobre meus ombros; use as minhas pernas e eu vou usar os seus olhos. Essa é a única maneira de nos salvarmos”.

Eles entenderam no ato. Não houve problema algum. O homem sem pernas não podia correr; era impossível que atravessasse a floresta, estava tudo em chamas. Ele conseguia se deslocar um pouco, mas isso não ajudava em nada: era preciso encontrar uma saída e uma saída muito rápida. O cego também estava certo de que não conseguiria fugir. Ele não sabia onde estava o fogo, onde estava a estrada e onde havia árvores que estavam em chamas e onde não havia. Cego, ele iria se perder. Mas ambos eram inteligentes; deixaram a inimizade de lado, ficaram amigos e se salvaram.

Essa é uma fábula do Oriente. E é sobre o intelecto e o coração. Não tem nada a ver com mendigos, ela tem a ver com você. Não tem nada a ver com uma floresta em chamas, tem a ver com você, porque você está no fogo. A todo instante você está queimando, sofrendo, na tristeza, na angústia.

Sozinho, o seu intelecto é cego. Ele tem pernas, pode correr rápido, pode se mover mais rápido, mas como ele é cego não pode escolher o caminho certo por si. E ele está fadado a viver sempre tropeçando, caindo, se machucando e sentindo que a vida não tem sentido. Isso é o que os intelectuais de todo o mundo estão dizendo: “A vida não tem sentido”.

A vida lhes parece sem sentido porque o intelecto cego está tentando ver a luz. Isso é impossível. Há um coração dentro de você que vê, que sente, mas ele não tem pernas; não pode correr. Ele permanece onde está, batendo, esperando: um dia o intelecto irá entender e será capaz de usar os olhos do coração.

Quando eu digo “confiança”, estou me referindo aos olhos do coração. E quando eu digo “dúvida” me refiro às pernas do seu intelecto. Os dois juntos podem sair do fogo, não há nenhum problema nisso. Mas, lembre-se, o intelecto tem que aceitar o coração sobre os ombros. Tem que ser assim. O coração não tem pernas, apenas olhos, e o intelecto tem de ouvir o coração e seguir suas instruções.

Nas mãos do coração, o intelecto torna-se inteligente. É uma transformação, uma transformação total de energia. A pessoa não se torna intelectual, ela simplesmente se torna sábia.

A sabedoria vem através do encontro entre o coração e o intelecto.

A sabedoria vem através do encontro entre o coração e o intelecto. E depois que você aprendeu a arte de como criar uma sincronicidade entre os seus batimentos cardíacos e o funcionamento de seu intelecto, você tem todo o segredo nas mãos, a chave mestra para abrir todos os mistérios.

Eu escolhi a confiança como o primeiro passo. E depois que você sente o gosto da confiança, a dúvida fica impotente.

A dúvida não pode destruir a sua confiança.

 A dúvida vai destruir suas crenças, elas precisam ser destruídas. A dúvida vai destruir tudo o que não é autêntico, que tem de ser destruído. O que a dúvida não pode destruir é a confiança. Quando a dúvida fica cara a cara com a confiança autêntica, então ela aceita a confiança – seus olhos, a sua maneira de sentir – como algo maior do que ela mesma. É tão claro, não há nenhuma outra possibilidade. Sua dúvida se curva diante da sua confiança, e uma amizade acontece em você. Seu coração é o mestre, seu intelecto se torna o servo.

E é isso que eu quero dizer com inteligência.

Do livro Confiança – A Arte de se Entregar à Vida e Confiar em Si Mesmo – Osho

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